Ao convidar o artista/pesquisador Fábio Noronha para escrever um texto sobre a residência no Sobrado, ele sugeriu conversar em frente à parede, gravar uma conversa em áudio e, posteriormente, transcrevê-la e imprimir em papel. A gravação gerou a publicação chamada Sonhos Sujos/Conversa Errática, em 2018 que apresenta, numa fala e escuta por associacão livre, conceitos do trabalho que surgem no início da pesquisa durante a residência artística em 2018. Neste intervalo entre a gravação em setembro de 2018 e publicação em 2019, eu sofri um acidente. Demorei para transcrever a parte da minha fala. Ao me ouvir, em alguns momentos, senti ruídos que afetaram a minha transcrição do áudio em alguns trechos para o papel. Os ruídos não eram físicos, mas referente ao deslocamento de sentido do trabalho. Apagar, na transcrição era deslocar o sentido da poética ao movimentar o pensamento. O projeto gráfico da pesquisadora/design Tina Merz acolheu a linguagem e acolheu os deslocamentos. Há um desencontro na folha do papel, ao mesmo tempo perguntas e respostas estão ajustadas pelo ponto de encontro no papel jornal alinhados pela transparência. Apresenta o ruído da fala e escuta.
Sobrado na Ladeira, setembro de 2018.
Sonhos Sujos integra a pesquisa de doutorado de Letícia Cardoso em Processos Artísticos Contemporâneos, com orientação da Professora Dra. Marta Martins desde 2017. Recebeu o Prêmio de Residência Artística no Edital Elisabete Anderle em 2017, teve a participação de José Rafael Mamigonian como fotógrafo, Tina Merz no projeto gráfico desta entrevista, câmera e edição de Alan Stone Langdon, desenho de som de Diogo de Haro, voz de Fábio Noronha como médico no diagnóstico, escrito pelo Clínico Geral, Manoel Carlos Cardoso, voz e criação do texto Ladainha de Letícia Cardoso. A revisão do texto de Fábio Noronha — e da transcrição — foi feita pela filósofa Laura B. Moosburger. A transcrição do texto de Letícia Cardoso foi feita pela própria artista, e a revisão por Vanessa Grando.
Fábio Noronha: Letícia, é importante lembrar que essa conversa foi transcrita por você (manuscrita e depois digitada) e daí se desdobrou em direções diferentes: a minha manteve os rumores da fala e praticamente não sofreu alterações e/ou acréscimos; a tua foi reconstruída a partir de uma análise do que foi dito por nós dois.
O fato de eu ter escolhido editar minimamente apenas o que eu disse, resguardou à leitura certa temporalidade e cadência típicas da linguagem falada. Assim, a meu ver, duas velocidades são justapostas: uma delas tenta assimilar e explicitar a experiência da dúvida do pensamento que se constrói na experiência vivida, com suas margens na imprecisão e inacabamentos; e, a outra, por tomar tais características como objeto, especifica a coerência analítica como norte. A conversa deriva, é empasse.
Sem título da Série Sonhos Sujos
Dimensões: 132×220 cm.
Ano: 2018/2022
Sem título – da Série Sonhos Sujos (01)
Dimensões: 132×220 cm
Ano: 2018/2022
Técnica: Impressão em canvas, sobreposição com tinta óleo.
*Impressão em canvas ampliação da fotografia de um detalhe da parede rasurada no porão do Sobrado da Ladeira no século XX por Rosa, encontrada pela Ruinóloga visual e coberta por cor em tinta óleo no séc. XXI.
Site specific no espaço Sobrado da Ladeira, edificação do século XIX na Lagoa da Conceição realizado em 2018 /2019 com o auxílio do Prêmio Residência Artística com Edital Elizabete Anderle.
• Sonhos Sujos fez parte da pesquisa de doutorado, em curso na linha de pesquisa de Processos Artísticos Contemporâneos CEART/UDESC defendida em maio de 2022.